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Economia Prateada

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A população mundial com mais de 60 anos dobrará para mais de dois bilhões de pessoas até 2050 — um quinto da população mundial. Essa mudança criará demanda de diversos produtos e serviços, mas também trará desafios que exigem soluções inovadoras para a economia prateada — principalmente nos mercados imobiliário, de saúde, seguros e consumo.

E, embora essa parcela da população seja importante para as empresas que a atende atualmente , a trajetória de longo prazo será sustentada pelas próximas gerações conforme elas forem envelhecendo. Ao olharmos em retrospectiva para a adoção acelerada de novos comportamentos, soluções e tecnologias — inclusive digitais —, nossa expectativa é de que perdurem daqui para a frente.

O que é geração prateada?

Geração prateada é o termo usado para se referir à parcela da população composta por indivíduos com 60 anos ou mais, que permanecem ativos. São consumidores influentes e com alto poder de compra — reflexo do acúmulo de riqueza ao longo da vida e de heranças recebidas perto da idade da aposentadoria.

Muitos deles ainda contribuem economicamente trabalhando e/ou por meio de atividades voluntárias.

Desde 2018, o número global de pessoas acima dos 65 anos já é superior ao número de crianças com menos de 5 anos, e a tendência é que esse grupo siga crescendo, uma vez que o aumento da expectativa de vida e a queda da taxa de natalidade em todo o mundo aceleram o processo de envelhecimento populacional.

Com isso, podemos esperar comportamentos e novas demandas muito mais voltadas para soluções tecnológicas e para o mundo digital, que devem representar grandes oportunidades e desafios para as marcas e empresas que desejarem atender a este público.

Por que a economia prateada é relevante?

A economia prateada é a movimentação do mercado feita por essa parcela da população, com 60 anos ou mais. Como mencionamos acima, esse grupo está se tornando cada vez mais vultoso, e, portanto, é um mercado importante para empresas de diversos segmentos.

Ademais, os indíviduos desse grupo possuem poder de compra muito maior que os millenials, por exemplo, e não se sentem representados e atendidos atualmente: o estilo de vida dos mais velhos hoje é muito mais saudável e ativo do que o estilo que as gerações anteriores possuíam com a mesma faixa etária.

Esses fatores levam a uma mudança no comportamento e nas demandas dessas pessoas e, portanto, é fundamental que as mais diversas empresas, de segmentos que vão da saúde ao turismo, avancem além dos estereótipos e busquem entender o mindset e as expectativas desse público.

Saúde: o setor mais afetado

Apesar de todas as mudanças comportamentais, a saúde continua sendo o setor mais fortemente afetado pelo envelhecimento da população no longo prazo. No entanto, a pandemia alterou as perspectivas de curto e médio prazos.

Muitos pacientes perderam check-ups médicos, consultas e procedimentos diagnósticos em virtude da priorização do atendimento a pessoas com covid-19 e da relutância de diversos pacientes em buscar cuidados em meio a preocupações com o risco de infecção em instalações de saúde.

Como o atraso nos cuidados médicos pode ocasionar a progressão de doenças, provedores de serviços de saúde precisarão lidar com essa fila de pacientes nos próximos anos.

Os próximos passos

Olhando para o cenário mais amplo, a incidência de diversas doenças crônicas aumenta com a idade. Infelizmente, a descoberta de medicamentos que alteram a progressão de casos mais complicados relacionados à idade, como o Alzheimer, continua sendo incerta.

Apesar disso, acreditamos que o setor poderá desenvolver terapias inovadoras para doenças cujas necessidades são pouco atendidas, ajudando a sustentar a trajetória de inovação por vários anos. É o caso do desenvolvimento de novas biotecnologias, como:

  • as terapias de RNA;
  • os conjugados anticorpo-fármaco;
  • e as terapias celulares e genéticas.

Por exemplo, a rápida adoção da tecnologia de RNA mensageiro para determinadas vacinas contra a covid-19 deve ajudar a aumentar a confiança de inovadores, reguladores e pacientes em outras aplicações dessa tecnologia.

O outro lado da moeda é o custo dessas inovações. Com base na trajetória histórica, projeta-se que os custos com saúde seguirão aumentando. Serão necessárias soluções para conter esses custos, e nós acreditamos que a tecnologia terá uma função cada vez mais importante na prevenção, no diagnóstico (precoce) e no tratamento de doenças.

Por fim, não podemos imaginar um futuro em que pacientes ainda dependem de prescrições médicas escritas à mão para comprar remédios — é uma questão de tempo até que as prescrições eletrônicas e as entregas por farmácias on-line se tornem comuns.

Acreditamos que o foco na inovação que cria valor seja essencial para conferir a empresas farmacêuticas, de biotecnologia e de equipamentos médicos algum poder de negociação frente aos custos ascendentes com a saúde.

Portanto, empresas que historicamente demostraram solidez na inovação e/ou, com relação às tecnologias tendem a performar melhor nos próximos anos. O envelhecimento da população requer opções e estruturas de cuidados dedicados.

Como já mencionamos, o estilo de vida da população mais velha hoje é muito mais saudável que a de gerações anteriores e, por isso, essas pessoas têm autonomia por muito mais tempo. Dessa forma, as casas de repouso padronizadas do passado já estão ficando antiquadas perante as as novas demandas desse grupo.

Portanto, construtoras e operadoras de residenciais dedicados aos idosos, que vão de moradias compartilhadas até clínicas de cuidados intensivos terão uma função crucial no atendimento dessa demanda.

Dito isso, reconhecemos que empresas de capital aberto terão de trilhar por uma linha tênue ao tentarem satisfazer dois importantes (e diferentes) stakeholders: os residentes dessas instalações e os acionistas.

Além da infraestrutura física, vimos a expansão da telemedicina durante a pandemia, hoje amplamente aceita por pacientes e provedores. As operadoras de telemedicina mais inovadoras estão cientes da proposta de valor advinda da ampliação de sua oferta, de atendimento emergencial para cuidado crônico, o que abre um mercado muito maior.

No geral, o mercado tende a ver com miopia a relação desse público com a tecnologia. A grandíssima maioria das pessoas pertencentes à geração prateada possui smartphone e acessa a internet diariamente para se informar, trabalhar e se divertir.

No campo dos cuidados existe um problema: a falta de enfermeiros. Essa questão provavelmente se intensificará no futuro, principalmente à medida que os sistemas de saúde trabalharem para solucionar a fila de procedimentos médicos represados por causa da pandemia. Entre 25% e 50% dos enfermeiros estão reconsiderando sua carreira em virtude de fatores como fadiga, remuneração e falta de reconhecimento.

Um enorme desafio e também grande oportunidade para operadoras de saúde particulares e empresas especializadas do setor.

A necessidade de uma rede de segurança

A população mais velha foi e continua sendo um dos grupos de risco da Covid-19. Além de um possível agravamento da doença, a pandemia forçou mais pessoas a antecipar a aposentadoria, fazendo com que recebam uma pensão menor, aumentando o risco de pobreza em idade avançada e afete os sistemas de benefícios sociais com o aumento de pedidos de pensão por invalidez.

Do lado dos ativos, a volatilidade do mercado financeiro pode pesar sobre os balanços dos fundos de pensão. Por fim, as amplas medidas de ajuda governamental implementadas durante a pandemia exerceram pressão adicional sobre as finanças públicas, o que poderia afetar sistemas de pensão custeados ou garantidos pelo governo no longo prazo.

A pandemia aumentou a conscientização geral sobre os riscos para a saúde. Essas tendências confirmam a necessidade crescente de:

  • soluções de aposentadoria privada;
  • seguro de vida;
  • e saúde.

De modo geral, enxergamos maior espaço para seguradoras se expandirem em mercados subpenetrados, principalmente via distribuição on-line.

A retomada do consumo pós-pandemia

Com a saída gradual da pandemia, é possível observar uma tendência ao retorno das viagens e do consumo de experiências. Com o auge da pandemia, as viagens foram interrompidas, o que deixou muitas empresas de do setor sem uma rede de proteção e gerou crises.

Em virtude da demanda reprimida e da alta poupança acumulada durante a pandemia, um forte impulso inicial nas reservas pode ser esperado.

Por fim, acreditamos que é importante compreender as preferências do consumidor em mercados emergentes em virtude da grande proporção que essa população passará a ter por lá.

Empresas para manter no radar

O envelhecimento da população é uma tendência já visível e que deve tomar ainda mais tração nas próximas décadas. Com isso, as empresas que se adaptarem para atender as novas demandas desse grupo tendem a se destacar no mercado.

Algumas organizações para acompanhar nos próximos anos são:

  • Empresas biofarmacêuticas, de tecnologia médica e de biologia que fornecem soluções para condições que afetam idosos por meio de produtos inovadores, como terapias de RNA ou conjugados anticorpo-fármaco;
  • Prestadores de serviços e operadores de residenciais bem administrados para idosos, operadoras de saúde e de telemedicina que conseguem direcionar pacientes para a estrutura de cuidados mais eficiente;
  • Empresas de seguro de vida e de saúde, assessores particulares de fortunas e gestores de ativos com forte capacidade de precificação.
  • Empresas do setor de consumo focadas nas necessidades básicas e nos desejos mais discricionários de consumidores seniores — como empresas de turismo e produtos de beleza, ou fabricantes de óculos de grau e aparelhos auditivos.

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